Japão dá lições sobre contingência

Os terremotos e tsunamis que atingiram parte da costa japonesa tiveram diversas consequências para a infraestrutura e para os cidadãos do país. As informações sobre esses incidentes só chegaram até alguns residentes por meio de aparelhos portáteis de Rádio FM, que funcionam a pilhas, já que muitas redes já estavam fora do ar antes que os efeitos chegassem a alguns locais.

Sem telefonia celular ou infraestrutura cabeada de voz e dados, os residentes de localizações mais remotas não têm maneiras de alcançar os parentes para um contato ou pedido de ajuda. Obter informações sobre outros terremotos, tsunamis ou danos em usinas nucleares se tornaram muito difíceis ou impossíveis de serem obtidos, de acordo com diversos relatórios.

Os problemas acendem alertas em outros países com áreas costeiras sujeitas a desastres. Mas mesmo sabendo da possibilidade, é impossível se preparar para desastres da magnitude do terremoto japonês. “Mesmo que operadoras de telecomunicações digam o contrário, haveria um grande colapso se o evento fosse em qualquer outro local”, avalia o analista Jack Gold, sócio da consultoria J. Gold Associates.

Mesmo em desastres norte-americanos de tamanhos incomparavelmente menores, como o ataque terrorista às torres gêmeas de 11 de setembro de 2001 ou a devastação da região do Golfo do México pelo furacão Katrina, demorou dias ou até semanas para que fosse restaurado o funcionamento normal das redes de telecomunicações. “Esses eventos fizeram com que as operadoras norte-americanas melhorassem seus planos de recuperação de desastres, com mais estruturas, backups e redundância, mas nada disso seria suficiente para manter a integridade das redes no terremoto que assolou o Japão”, pontua o analista da Gartner, Philip Redman.

Resta às empresas, lançarem mão de soluções alternativas em preparação para desastres. Uma das formas utilizadas no Japão para estabelecer comunicação foi o uso de telefones via satélite. O custo tanto dos aparelhos quanto dos serviços envolvidos são bem altos, tornando a opção viável apenas para empresas de grande porte.

Assim, os rádios surgem como opção, principalmente os bidirecionais que são usados basicamente por policiais, brigadas de incêndio e outros trabalhadores de campo. Gold lembra que esses rádios funcionam ponto a ponto, dispensando torres de sinal, se estiverem a poucos quilômetros de distância.

A dificuldade com os rádios bidirecionais é a necessidade de operar via um espectro sem fio licenciado. Dependendo dos equipamentos e da estrutura necessária, o preço também pode ser um problema. Mas é a única alternativa viável. Mesmo que a organização invista em uma rede privada própria, para o caso de emergências, essas também estão sujeitas aos anos físicos de eventos climáticos ou naturais inesperados.

“O rádio vai ajudar ainda que as redes celulares permaneçam em pé. No caso do furacão Katrina, por exemplo, as redes não caíram, mas ficaram tão sobrecarregadas com chamadas e dados que tornaram-se inviáveis para muitas pessoas e empresas”, relembra Gold. O analista critica a opção dos telefones satelitais, graças ao retorno sobre investimento muito baixo. “Mesmo tendo esse aparelho, se ninguém mais o tiver, a comunicação permanece inviável”.

Ainda assim, Redman, do Gartner, diz que as companhias com missão crítica precisam investir em múltiplos canais de comunicação. “Quanto mais crítica é a necessidade, maior é o investimento que deve ser feito, incluindo serviços na terra e de satélite”, diz.

Para indivíduos ou funcionários de pequenas e microempresas, manter contato direto com todos os pares, parceiros e clientes pode ser impossível em um desastre de grandes proporções. Mas um plano de contingência pessoal pode incluir um pequeno rádio a pilha, que custa menos de 50 dólares, para a obtenção de informações via canais públicos. “É o que muitas pessoas já fazem em caso de quedas de energia elétrica em vários lugares do mundo”, observa Gold.