Influência Microsoft está caindo
Influência Microsoft está caindo. Com a explosão da oferta de smartphones e tablets, a empresa se depara com uma situação competitiva completamente nova. O ‘esquizofrênico” Windows 8 parece não ter ajudado muito, indicam os analistas.
Abril de 2013 – De acordo com o Gartner, o declínio histórico do mercado de PCs em 2012 não foi somente uma fase ruim: foi o começo de uma avalanche. Segundo as previsões do novo estudo da empresa, publicado na quarta, a indústria de PCs vai continuar perdendo espaço no mercado consumidor pelos próximos cinco anos, enfraquecidos pela explosão do mercado de tablets, que poderá acrescentar seis novos dispositivos para cada laptop ou desktop perdido.
Os PCs ainda não morreram. As máquinas permanecerão como acessórios no local de trabalho, e o Gartner espera que mais de 270 milhões de unidades sejam fabricadas em 2012 – um declínio de 20,4% em relação aos decepcionantes 341 milhões de 2012, mas um grande número, no entanto. Mesmo assim, as projeções esperam um grande realinhamento na hierarquia do mundo da tecnologia, com uma empresa especificamente com potencial de perder terreno: Microsoft.
A vulnerabilidade da Redmond é simples. O império da empresa é baseado em parte no fato de que nove a cada dez computadores do mundo executam alguma versão do Windows. Se as pessoas começarem a usar outros dispositivos para tarefas que costumavam fazer em PCs, o Windows deixará de ser um sistema operacional dominante fora do local de trabalho. A Microsoft ainda não mostrou que pode lançar algo no novo mercado de mobilidade orientado pelo BYOD, e com iOS e Android já estabelecidos e alternativas como Chromebooks que entram na área, a Redmond poderia enfrentar um mercado em que é um player, mas não uma superpotência global.
Prognósticos do Gartner alinham de várias maneiras com um relatório do IDC publicado no mês passado com previsões de que, em breve, os tablets irão ultrapassar os PCs em vendas totais. Dito isso, a IDC divulgou no início de março que os PCs voltariam a ter um crescimento modesto em 2014. Previsões mais severas do Gartner poderiam, portanto, serem tomadas com algum ceticismo – mas dado que as perspectivas quanto ao PC têm crescido progressivamente ao longo dos últimos seis meses é difícil ignorar as últimas projeções.
Alguns observadores da indústria haviam interpretado inicialmente as vendas tropeçantes de PC em 2012 como um subproduto de condições econômicas desfavoráveis. Essas condições foram supostamente melhorariam quando o Windows 8 chegasse ao mercado e os consumidores começassem a comprar computadores novos para as férias. Quando nem o novo sistema operacional da Redmond, nem as férias, conseguiram reverter a trajetória de queda do PC, os analistas começaram a ver as perspectivas de recuperação do setor com crescente pessimismo. A queda na popularidade PC, em outras palavras, passou a ser vista menos como uma condição econômica e mais como uma mudança nas preferências do usuário.
Em uma entrevista, a VP de pesquisa do Gartner, Carolina Milanesi, explicou que os PCs têm sofrido com a popularidade dos baratos e pequenos tablets, que ela afirma satisfazer as necessidades da maioria dos usuários de computação primária, tais como navegação na Web, interações sociais de mídia e consumo de conteúdo. Ela previu também que os PCs tradicionais foram rebaixados para uso em tarefas relacionadas ao trabalho; muitos vão ver as máquinas cada vez menos como parte de suas vidas diárias. Esses consumidores, relatou Carolina, vão sentir a diminuição da pressão em utilizar PCs regulamente, optando substituir por tablets e smartphones.
Com mais dispositivos disputando a atenção, a Microsoft se encontra em uma situação inteiramente nova. “Nos bons velhos tempos, se você entrava em uma loja para comprar um PC, adivinhe , você compraria um dispositivo da Microsoft 90% das vezes. Isso não era uma escolha consciente”, observou Carolina. Agora, diz ela, os clientes recebem ofertas não só de Windows, mas também por Chromebooks, Android e tablets iOS, OS X PCs e muito mais. O Windows não é mais a opção padrão que já foi um dia.
A Redmond está claramente consciente destas tendências, pelo menos algumas delas eram previsíveis. As vendas do Windows 8 sempre serão leves, não só porque as empresas ainda estão recuperando o custos de migração do Windows 7, mas também porque o Windows 8 é mais valioso quando combinado com um novo hardware sensível ao toque, investimento que os departamentos de TI não têm dinheiro para fazer. A Microsoft, então, olhou para os consumidores de forma que eles pudessem levar o Windows 8 de suas casas para as empresas através de programas BYOD.
Carolina destacou que há uma diferença entre a Microsoft identificar tendências e a Microsoft responder corretamente a elas. Ela sugeriu que a empresa “precisa relaxar da sua obsessão com o mundo corporativo”. Apesar da Redmond ter se esforçado em cortejar os consumidores com o Windows 8, ela disse que a tentativa do OS para encaixar uma experiência orientada pelo toque dentro de desktops tradicionais criou uma experiência “esquizofrênica”.
De acordo com Carolina, os gerentes de TI com quem o Gartner trabalha ficariam realmente felizes se todos os seus aplicativos cruciais e programas estivessem disponíveis na interface tablet do Live Tile. Ao invés disso o Windows 8 força os usuários a saltarem entre a nova interface e a interface desktop tradicional, gerando uma experiência que muitos usuários criticam como incoerente e contraditória.
Ao investir em oferecer uma solução comprometida tanto com consumidores finais como com profissionais, aferiu Carolina, a Microsoft deveria focar no primeiro grupo. “Se eles chegam até o consumidor, acabam chegando nas empresas também.”
Ela conta que os recentes rumores sobre o Windows Blue sugerem que a Microsoft está fazendo um progresso. Um impulso do Windows 8 em direção a tablets mais baratos de 8 polegadas, por exemplo, vai ajudar. E ela acredita que o Windows RT, que está perto nascer morto, até agora, pode cavar um buraco enquanto os preços dos dispositivos caem.
Mas a Microsoft ainda enfrenta obstáculos, porque está jogando de uma posição inferior no mercado de consumo. Graças em parte ao lento início do Redmond, o Gartner projeta que, em 2017, os dispositivos pessoais Android vão ultrapassar o share do Windows. Além do mais, a empresa acredita que o ecossistema da Apple vai acabar rodando como muitas como as da Microsoft, deixando o Redmond, na melhor das hipóteses, como um dos três sistemas operacionais mais importantes dentro desse mix.
“É evidente que a Microsoft tem um problema”, pontua.
A Microsoft pode atrasar suas perdas, sugere a VP, proporcionando experiências mais ricas de consumo, um processo que a empresa já está buscando com os esforços para aumentar seu ecossistema das apps. Mesmo assim, a estrada de Redmond é repleta de obstáculos. “As pessoas dizem que se todos os aplicativos legados fossem Live Tiles, seria bom”, comentou Milanesi. “Mas quanto tempo levaria para a SAP e Oracle desenvolver algo diferente das plataformas tradicionais da Microsoft?”